Montserrat: onde a natureza trabalhou milhões de anos

Visitar o Mosteiro de Montserrat na Catalunha, Espanha era um sonho antigo. Sempre estava entre os planos. Depois, quando li o livro “O Quarto Reino” um romance de Francesc Miralles, o desejo de viajar para as montanhas de Montserrat aumentou.

E numa viagem a Barcelona foi a oportunidade, afinal eram apenas 50 quilômetros de distância. Valeu demais, é um passeio imperdível. Estar lá, olhar tudo em volta, quase indescritível.

Saímos de Barcelona da Plaça Espanya, onde tomamos o trem da linha regional R-5 sentido Manresa com destino a Monistrol de Montserrat. Compramos um bilhete único com a opção: tren cremalleira – um tipo de estrada de ferro que funciona com um terceiro trilho dentado ou cremalheira. Existem duas opções para subir: pelo teleférico ou “tren cremallera”. Se você optar pelo teleférico, deve descer uma antes, na estação Montserrat Aeri. Para conhecer os dois, subimos em trem de cremalheira e descemos pelo teleférico. As duas formas de deslocamentos mostram vales e montanhas. São vistas impressionantes.

Chegada em Montserrat

Monserrat é um complexo onde estão: o monastério composto por vários prédios, igreja, museu, hotel, biblioteca, escola, lojas e restaurantes. Montserrat é chamada de montanha sagrada. É um mosteiro beneditino localizado no Monte Serreado, município de Monistrol de Montserrat.

A comunidade é formada por aproximadamente 70 monges que vivem de acordo com as Regras de São Bento - conjunto de preceitos destinados a regular a vivência da comunidade monástica cristã. As regras foram escritas por Bento de Núrsia/Itália em 480 a 547 d.C. O monge foi o criador da ordem dos beneditinos.

A história do monastério de Montserrat inicia no ano de 880, quando um grupo de pastores conta terem visto uma luz brilhante que descia do céu em direção à montanha. Nesse local, foi encontrada uma estátua de madeira da Virgem e construída uma capela. Em 1025, foi fundado um novo mosteiro por Oliba, abade de Ripoll/Espanha e bispo de Vic, município espanhol.

Os peregrinos começaram a chegar e em pouco tempo se espalharam as narrativas dos milagres da Virgem, entre elas está uma invasão de corsários holandeses, em 1615. O que se conta é que houve um desmoronamento sobre os invasores.

O Monastério de Montserrat, ou Abadia de Montserrat em catalão, tem vários estilos arquitetônicos: românico, gótico e arquitetura renascentista. Isso se explica porque os prédios do mosteiro foram devastados e reconstruídos em diferentes épocas. Em 1811, foi destruído por tropas francesas durante a Guerra Peninsular. O mosteiro foi abandonado durante a Guerra Civil Espanhola. Em 1944 durante a ditadura de Franco foi restaurado.  

A Basílica em estilo gótico e renascentista se destaca. No átrio do Abade Argerich estão esculturas de santos e reis.

No interior da Basílica, a nave central tem 68m de profundidade, 21m de largura e 33m de altura. É coberta por arcos góticos redondos.

La Moreneta

A Virgem de Montserrat, conhecida popularmente como “La Moreneta”, está na parte de trás da igreja, sobre o altar. Sentada em um trono, segura em uma de suas mãos uma esfera que simboliza o universo e tem o Menino Jesus em seu colo.

É uma escultura românica policromada, feita em fins do século XII. Em 1881, a Virgem de Montserrat passou a ser a padroeira oficial da Catalunha, proclamada pelo Papa Leão XIII.

Diz uma lenda que foi São Lucas, o escultor da imagem. Tomando como modelo Nossa Senhora, teria feito na oficina de São José. E foi São Pedro que levou para Montserrat, quando lá ficou escondido, antes da invasão dos mouros, numa gruta da montanha.

O Mosteiro de Montserrat está a 1.236m de altura. Pode-se chegar no alto da montanha usando um funicular. Optamos pelo de Sant Joan que foi inaugurado em 1918. Durante os anos da Guerra Civil Espanhola (1936-39), o funicular passou por dificuldades, mas a procura cresceu progressivamente no pós-guerra.

Em 1986, o funicular passou a integrar a companhia pública FGC – Ferrocarrils de la Generalitat de Catalunya. Seguiu-se a modernização do funicular com novos veículos de grande capacidade. Em 2018, foi renovado o sistema de segurança, tornando o Funicular de San Joan um dos transportes a cabo mais moderno da Europa.

No topo da montanha a vista é deslumbrante.

Como imaginar que há cerca de 40 milhões de anos, o centro da Catalunha era um mar tropical, onde desembocava um rio, acumulando grandes quantidades de cascalho, areia e argila. Pois, o delta desse rio é hoje a montanha de Montserrat. Com a evaporação do mar, os sedimentos do fundo do mar se compactaram e transformaram-se em rochas.

A pressão das placas elevaram as cordilheiras dos Pirineus assim como as costeiras e rompeu em blocos as rochas do antigo delta. A água da chuva durante milhões de anos causou erosão nos blocos até formar agulhas arredondadas, grutas e cavernas em Montserrat.

Parque Natural da Montanha de Montserrat

Por ser uma riqueza natural, cultural e paisagística, em 1987, foi criado um órgão de governo chamado “Patronato de la Montaña de Montserrat” para proteção do Parque Natural. A montanha e seu entorno ocupam 7.500 hectares, sendo 3.500 do parque. Desde 2012, o órgão governamental faz parte do conselho do Geoparque Mundial Unesco da Catalunha Central. Alguns dados foram tirados do site: www.spain.info/

Nossa volta foi outra experiência sem igual. Descemos pelo teleférico amarelo que faz um trecho de 1,5 km, saindo da estação Aeri de Montserrat Cable Car.

Agora, é levar embora as imagens que foram armazenadas no coração e as lembranças de uma montanha mágica que completa 1.000 anos da sua fundação em 2025. Enquanto isso, Montserrat se moderniza para atender os milhares de peregrinos que querem conhecer esse maciço rochoso de tantas histórias.

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Museu de Montserrat

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