Morretes/PR: O barreado é mais do que uma iguaria regional. É patrimônio cultural do Paraná
- Leci Rech

- há 11 minutos
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A cidade de Morretes no Paraná sempre chamou minha atenção e a vontade de conhecer por dois motivos. Pela gastronomia, mais especificamente pela iguaria, conhecida por barreado e pelo portal que avistava, quando passava na estrada, vindo de São Paulo e chegando no Paraná.

Somente o nome, Estrada da Graciosa, já era um convite para percorrer a serra e curtir o verde da Mata Atlântica.

Nesta viagem, por circunstâncias, fizemos ao contrário dos meus sonhos. Seguimos para Morretes pela BR - 277 e depois a PR - 410. E na volta deixamos a cidade, seguindo pela serra até chegar ao famoso pórtico, início da PR – 410. De qualquer maneira, a viagem foi encantadora. A Serra da Graciosa é parte da Serra do Mar.

Entre curvas e retas estão trechos originais, feitos com paralelepípedos em 1873, sendo a Estrada da Graciosa a primeira via pavimentada do Paraná. Foi uma antiga rota de tropeiros que seguiam em direção ao litoral e faziam compras no Porto dos Três Morretes. A estrada tem 28,5 quilômetros. Em 1993, parte do trecho da Serra do Mar foi declarada pela Unesco como reserva da Biosfera da Mata Atlântica.

Chegando em Morretes, fomos para o centro histórico, onde os casarões coloniais contam a história da cidade, fundada em 1733, quando jesuítas viviam ali e também iniciava a medição de terras, tornando o povoado consolidado. Antes disso, o histórico indica a presença de índios Carijós, seguida pela presença dos bandeirantes de São Paulo que andavam em busca de ouro.
O nome Morretes teve origem dos pequenos morros (morretes) que cercam o município, banhado pelo rio Nhundiaquara, antes chamado de Cubatão.

Nhundia = significa peixe e quara = buraco. Hoje, por esse rio, que embeleza a cidade, circulam gôndolas, fazendo passeios turísticos, o que lhe dá o apelido de Veneza Paranaense.
Ponte Nilo Peçanha
A Ponte Velha sobre o rio Nhundiaquara, também conhecida como a Ponte de Ferro, é cartão postal da cidade. O monumento é hoje patrimônio de Morretes.

A ponte começou a ser construída em 1902 com estrutura metálica pré-fabricada com ferragem inglesa. Os pilares são de pedra. Trabalharam na ponte, inaugurada em 1906, o engenheiro cearense Hildebrando Pompeu e o escocês Robert Grow Bleasby.

Caminhar no centro histórico de Morretes é também se encantar pelas feirinhas de artesanato com muitos trabalhos em madeira, barro e cordas. Tem ainda muitos doces, balas de banana de Antonina e uma grande variedade de licores de gengibre, maracujá, café, bananas, entre outros.
Igreja Matriz de Nossa Senhora do Porto

Bem no alto da cidade está a igreja matriz inaugurada em 1850. Nossa Senhora do Porto é Padroeira de Morretes. Uma visita mais detalhada a igreja que tem muitas histórias ficou para a minha próxima viagem a Morretes. O que se pode dizer é que a imagem da padroeira veio da Bahia.

O interior é simples, mas abriga algumas joias como a Via Sacra, pintura à óleo de Theodoro de Bona, artista plástico paranaense de Morretes.

Alguns dados indicam que a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Porto em estilo colonial incorpora elementos do barroco.
Theatro Municipal

Morretes tem outra joia cultural de 1930. É o teatro municipal que apesar de estar bem judiado e precisando urgente de uma reforma, está ali testemunhando uma história cultural que iniciou em 1845. Nesta data, o Cine Theatro foi construído em madeira para as festividades de coroação do Imperador Dom Pedro II. O teatro foi o primeiro do estado do Paraná.

Localizado na rua 15 de novembro, 220 - Vila dos Ferroviários, o prédio atual tem o estilo arquitetônico Art Dèco, muito popular nas décadas de 1920 e 1930. Ficou fechado durante quase dez anos, depois foi revitalizado e reaberto em 2012.
Barreado

Foi sensacional, desde a escolha do Restaurante Casa do Rio às margens do Nhundiaquara até a deliciosa carne cozida e chamada de barreado. A iguaria tem origem açoriana, sendo popularizada pelos imigrantes portugueses no século XVIII.

O nome barreado veio de técnica de barrear, o que tem relação com a vedação da panela de barro com uma massa de farinha de mandioca e água. Essa massa impede a saída de vapor e a carne se torna macia, cozinhando lentamente cerca de 12 horas em fogo brando.

A carne desfiada é servida com farinha de mandioca e banana-da-terra. O barreado é uma atração turística em Morretes e é Patrimônio Imaterial do Paraná.






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