Relíquias da Baixada Santista: Santos e São Vicente
- Leci Rech
- 20 de dez. de 2020
- 5 min de leitura
Quem pensa que a Baixada Santista se resume em praias, beira mar, bares e restaurantes está muito enganado, muitas riquezas estão ainda preservadas. Vamos voltar no tempo, século XIX, e ouvir o apito do trem que passava pela Estação do Valongo, considerada uma relíquia arquitetônica.

Ela foi a primeira estação de trem do estado de São Paulo, inaugurada em 1867. Foi construída em estilo neoclássico por iniciativa de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, para atender a linha São Paulo-Santos. Os trens transportavam produtos de exportação, principalmente o café, assim como faziam o transporte de imigrantes que chegavam ao Brasil. Era administrada pela empresa São Paulo Railway.

A Estação do Valongo foi projetada na Inglaterra e inspirada na Victoria Station de Londres. No alto da torre os leões representam o poder do império britânico, enquanto o relógio lembra a pontualidade. O alpendre é apoiado em colunas de ferro. O prédio ainda é original, mas passou por muitas reformas entre elas a de 1895 quando a estação ganhou cara nova com influência francesa neorrenascentista.

A Estação do Valongo fica no Largo Marquês de Monte Alegre e é tombada pelo Patrimônio Histórico. Ali, tomamos o bonde da Linha Turística. São sete veículos, cada um com seu nome, tomamos o Bonde Pelé. Eles circulam das 11 às 17 horas, exceto segunda feira.
O ingresso do bonde é adquirido na bilheteria do Museu Pelé em frente à estação.
Museu Pelé – a história de um rei

Se você está na estação de trem, vale a pena visitar o Museu Pelé que fica bem em frente no Largo Marquês de Monte Alegre, 1 centro histórico. O museu é um antigo casarão do Bairro Valongo em estilo neoclássico, construído em 1867, quando foi sede do governo da Província de São Paulo.
Em 2014, foi restaurado e ganhou ares de século XIX, cinco anos depois, obras de manutenção valorizaram ainda mais o espaço, onde estão os testemunhos da história do Rei do Futebol.

Troféus, bolas, camisas, chuteiras, fotos e documentos mostram a trajetória de Edison Arantes do Nascimento. Para quem tem tempo, estão à disposição áudios e filmes que contam a história de glórias do atleta. Na Linha do Tempo estão fotos da infância de Pelé, sua passagem pelo futebol de Bauru/SP e o seu ingresso no Santos Futebol Clube. Confirmar o valor do ingresso, dias de funcionamento e horários.
Bolsa do Café

Outra joia arquitetônica é o Palácio da Bolsa Oficial de Café na Rua XV de novembro, 95 no centro histórico. O prédio em estilo eclético tem mais de 200 portas e janelas. O granito-rosa é de Salto de Itu, desenhados pelo arquiteto belga Ernest Chaineux. Na década de 50, os pregões foram transferidos para São Paulo capital e o prédio foi abandonado, permanecendo fechado até 1998, quando foi restaurado e transformado em Museu do Café.

A Sala do Pregão é imperdível. Piso com desenhos geométricos, mármores da Grécia, Espanha e Itália e um mobiliário estilo art noveau levam a imaginação para tempos distantes, quando as cotações diárias das sacas de café eram fixadas ali. Cadeiras e mesas em imbuia sobre um estrado de jacarandá eram utilizadas pelo presidente e secretários no centro. Nos espaços laterais ficavam os corretores, enquanto produtores e exportadores assistiam as sessões no mezanino.

No teto a beleza do vitral, um trabalho do pintor e historiador, nascido em São Paulo, Benedicto Calixto que se utilizou de temáticas brasileiras.
Com exposições temporárias e permanentes o museu conta a história do café, oferece grãos, a bebida feita de diferentes formas e doces a base de café.
Outeiro de Santa Catarina
A visita a este monumento é muito interessante, principalmente por sua história. Localizado no topo da Rua Visconde de Rio Branco – 48, o outeiro está sobre uma rocha, mas nem sempre foi assim. No século XVI, foi construída na base do morro uma capela dedicada a Santa Catarina de Alexandria. Eram fins da década de 1530, quando Luiz de Goés e Catarina de Aguillar iniciaram essa história. Durante a invasão e saques feitos por piratas ingleses, a imagem da santa foi jogada no mar. Quando resgatada, outra capela foi erguida, desta vez no alto do outeiro.

Durante anos, foram retiradas pedras do outeiro para calçamento de ruas e ampliação do porto. E o morro foi desaparecendo, restando apenas duas grandes rochas que mais tarde fizeram parte de uma construção, inspirada em castelos medievais da Itália, por iniciativa do médico italiano Giovanni Éboli entre 1880 e 1884. São três níveis ligados por escadarias.

Foi sobre o Outeiro de Santa Catarina que Brás Cubas, fidalgo português, lançou os fundamentos do povoado. Em 1922 a Câmara Municipal reconheceu o Outeiro de Santa Catarina como sendo o marco da Vila de Santos. Mais tarde ocupações irregulares transformaram o local em cortiço. Somente em 1986, foi tombado, permitindo a restauração e preservação deste monumento.
Em julho de 2020, o Outeiro de Santa Catarina passa por nova restauração como parte do programa Novo Centro Velho. Entre os trabalhos estão plataforma de acessibilidade e iluminação cenotécnica entre outras iniciativas que irão valorizar ainda mais o monumento histórico.
Museu Marítimo

Os curiosos e apaixonados pelo mar vão gostar de conhecer o Museu Marítimo em Santos, inaugurado em 2005. É um dos mais importantes acervos da arqueologia submarina. É uma viagem na história marítima do Brasil e dos naufrágios da costa brasileira com muitos documentos e fotos, distribuídos em 240 metros quadrados.

Os materiais resgatados do fundo do mar são de embarcações dos séculos 18 e 19. Tem ainda equipamentos de mergulho, maquetes e navios. Marinheiros, piratas e capitães compõem o cenário. Vale a pena. Conferir dias e horários de funcionamento. O Museu Marítimo fica na Av. Governador Fernando Costa, 343 Ponta da Praia. Tel.013.3261.4808
Engenho São Jorge dos Erasmos
Na divisa de São Vicente e Santos, visitamos o Monumento Nacional Ruínas Engenho São Jorge dos Erasmos - Rua Alan Ciber Pinto, 96 – Vila São Jorge, município de Santos/SP. Sua história começa com a chegada da expedição de Martim Afonso de Souza em 1532 e o início da produção de açúcar em engenhos brasileiros.

Conhecido como Engenho do Governador ou Engenho do Trato, em 1540 foi vendido a Erasmo Schetz. Católica e ligada aos jesuítas, a família ergueu no engenho uma capela dedicada a São Jorge, por isso o local ficou conhecido como Engenho São Jorge dos Erasmos.

Com a decadência provocada pela concorrência do Nordeste e dos ataques piratas, o engenho de açúcar foi vendido novamente em 1620. Em ruínas, no século XX, o engenho passou para as mãos da USP e a partir daí foram iniciados os processos para o tombamento.
Construído em 1534, em estilo açoriano, o engenho movido a água era uma edificação feita em pedra, óleo de baleia e cal.

Hoje é um sitio arqueológico e centro de pesquisa, cultura e extensão universitária, além de ser um espaço turístico e cultural. De acordo com o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Engenho São Jorge dos Erasmos foi a primeira propriedade produtora de açúcar do Brasil, a partir da cana. É museu a céu aberto e monumento nacional.
Ponte Pênsil de São Vicente
Seguindo pela praia sentido: Santos - São Vicente, pode-se ver de perto uma das relíquias da cidade – a ponte suspensa. Sua história é de 1910. Foi um projeto de saneamento básico para reduzir casos de doença.

A ponte pênsil daria suporte a uma canalização para levar o esgoto de Santos e São Vicente e lançar no oceano. Entretanto esse objetivo não foi adiante, as tubulações de esgoto foram removidas por conta de um novo projeto.

A ponte suspensa passou a ter a função única de ligar São Vicente ao continente. A obra concluída em 1914 deu impulso à região. August Kloenne, engenheiro alemão, é autor do projeto da ponte que tem 23 metros de altura e 180m de comprimento. Ela é metálica e inicialmente foi feita com cabos de aço, importados da Alemanha para sustentação da construção, mais tarde os cabos foram substituídos por material italiano.

Várias reformas foram realizadas como o reforço nas bases para permitir o constante crescimento do trânsito de veículos da Baixada Santista. Desde 1982, a ponte pênsil de São Vicente é patrimônio histórico pela Condephaat - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico.
Comments